Wednesday, June 27, 2007

Era chuva...?

Era chuva que molhava a minha face e batia no meu peito...ansiando a tua boca.
Era desejo de querer dar-te um beijo blasfemado desta minha paixão.
Era chuva e era quente, como fogo ardente...ansiando um beijo húmido.
Era amor, era carinho, que escorria devagarinho para fora de mim.
Era chuva que escrevia no meu corpo...ansiando o teu conhecimento
Era um dialecto que compõe todo este afecto, tão simples que tu não lês.
Era chuva que me afagava o corpo...ansiando as tuas mãos.
Era ternura e na ponta dos teus dedos a cura, para o meu desassossego.

Era chuva que batia neste vidro...e eu sentia o pesar de cada gota.
Eu de um lado e tu do outro, formando um rosto embaciado de quem esta perto e mal se vê.
Era chuva que escorria e eu com anseio bebia tentando beber de ti.
Era as minhas mãos no vidro, tacteando com alento uma ponta que se quebrasse.

Era chuva…eram gotas e gotinhas tilintando no meu ouvido, descendo pelo meu corpo, pintando telas cinzentas de saudade.

Era chuva... e uma voz que dizia docemente:

- Talvez não seja chuva...talvez um escorrer das tuas lágrimas sobre ti mesma.

Monday, June 25, 2007

Existência...

Quando era pequena...

Partia pedras arredondadas pelas ondas do mar, buscando tesouros no meio delas. Pequenos tesouros de quartzo...
Subia às árvores e jogava à bola, mostrando aos meninos o quanto também eu era forte e capaz. Todavia também tinha as minhas bonecas...
Calçava sapatos altos e esborratava-me com batons. Um simbolismo que me elevava a “mulher”.
Tinha um mundo meu de quatro paredes onde o sonho era o limite...vestia e despia personagens vivendo outras vidas que sonhava para mim.
Já me perdia em folhas de papel brincando com as palavras. Contemplava o céu e perguntava-me se alguém ouvia o que eu dizia num quarto vazio.
Chorava ás vezes das faltas que a vida trazia...mas rapidamente havia um objecto que ganhava vida, um sonho que ganhava forma mas sem alicerces.
Sonhava com um amor de balada, alguém que me viria salvar do alto da torre e dar-me um beijo que significasse toda uma vida de espera.

Agora...

As pedras ainda me fascinam, as suas cores, os seus mitos, a sua essência...mas já não as quebro...faço de cada uma por inteiro um tesouro.
Vou me construindo forte e segura. Não precisando de ninguém, num misto de liberdade e solidão. No entanto, tenho as minhas fragilidades.
Admiro a beleza simples, acreditando que os meus saltos altos não estão forçosamente nos meus sapatos.
O meu mundo são as quatro paredes com que me fecho. Os sonhos são a realidade de todos os dias e a única personagem que visto sou eu sem artifícios.
As palavras ainda permanecem, contam pedaços de mim. Ainda contemplo o céu tentando perder-me na sua imensidão. Mas já não lhe falo, sei que não me ouve.
Ainda choro de mansinho quando a noite vai tardia, sem que ninguém veja. Perdi o dom de dar vida, mas ainda faço pequenas vidas felizes.
Só quero que me amem de modo imperfeito. Mas sou tão pequena e tu tão “grande” amor. Procuro por ti mesmo sem me conheceres. Encontro-te todos os dias e tu não me alcanças.

Friday, June 08, 2007

Fotografia

Aprisionas-me nesses teus pequenos momentos. Roubas-me a alma, prendes-me o corpo, paras o tempo.
Desenhas com a luz nessa câmara escura onde agarras a vida. Procuras o enquadramento perfeito, a posição certa. Controlas a profundidade, a luz, o brilho, a nitidez, captando o que se vê e o que está implícito.
Dás-me alegria, dás-me tristeza. Dás-me cor e vida e sem cor dás me beleza.
Despes-me a alma, desnudas-me o corpo...t
ransformas a nudez numa arte e num jogo perigoso de luzes e de sombras. Vais descobrindo o meu meio tom, enquanto mordo o lábio com ansiedade do que vem depois.
Escondes-me do mundo e revelas-me apenas para satisfação pessoal. E eu sinto-me espalhada por cada pedaço de papel. Penso que estou em mim, quando na verdade estou em cada lugar que imortalizaste.
Guardas-me contigo...
Guardas-me contigo sim...mas eu não te pertenço.

Tens me apenas nesse teu pequeno grande mundo a que chamas de fotografia.