Sunday, January 28, 2007

Palco da vida


O piano tocou pela última vez num tom amargurado. Anunciava a minha entrada em cena. Eu tinha o meu rosto cansado, uma maquilhagem borrada, num rosto com rugas. Subi ao palco. Ao palco da vida, onde representei tantos papéis. As luzes diminuíram, deixando apenas perceptível a melancolia no meu rosto e a expressão das minhas mãos. Falei-lhes de mim.

Um dia fui bailarina Étoile e dancei nas maiores salas do mundo. Expressei-me com Pirouette en Dehors, Demi Plie, Grand Plie, Arabesques. Tinha um stretching tão gracioso e a mesma garra de Nadia Nerina.
Fui bailarina sem nunca ter calçado umas sapatilhas de ponta.

Um dia fui estrela de cinema, qual Marilyn Monroe. A mesma sensualidade, beleza, glamour, mas ao mesmo tempo tão frágil, efémera e ingénua. Compreendi cedo que as mulheres demasiado bonitas nunca são felizes.
Fui actriz de cinema sem nunca ter desfrutado de um papel principal. Fui bonita sem nunca ter tido beleza.

Um dia fui pintora. Tinha a mesma astúcia de Da Vinci, tecnicamente brilhante como Rembrandt e vi o mundo pelos olhos de Monet.
Fui pintora sem nunca ter tido uma tela, uma paleta. Apenas esbocei rostos e espaços a carvão.

Conheci pessoas e “pessoas”.
Pessoas que se sentaram sempre na primeira fila só para me verem cair. As verdadeiras sentaram-se sempre na segunda fila...que engraçado esta vazia.
Amei e fui amada. Amada por ti. Por ti que sempre te sentaste na última fila num canto onde nunca te pude ver. Mas sei que me ridicularizaste. Ainda oiço as tuas gargalhadas de desdém.

As luzes alumiaram a sala. No fim vi que estava vazia. Mas espera. Tu ainda estás aí no mesmo canto. Não estás? Mas já não te consigo ouvir. Agora é tarde demais, já estou tão velha e cansada, cheia de palavras gastas pelo tempo.

Abandonei o palco com lágrimas no rosto. Afinal estas sempre fizeram parte de mim.

Sou menina perdida em contos de fada. No papel sou tudo. Na vida não sou nada.

Wednesday, January 24, 2007

Talvez um dia seja tarde...

E se um dia o meu olhar for de indiferença? E eu represente que sou feliz sem ti.
Passe por ti e não te veja, deixando um vazio nos meus passos.
E se um dia o desejo que sinto for asfixiado por argumentos racionais e eu te negue em mim? Seria eu capaz de renunciar um beijo teu?
E se um dia eu permitir que alguém me dê o carinho que tu não deste? Alguém que eu ame sem amar, apenas pelo medo de estar sozinha. Acreditavas que te tinha esquecido?
E se um dia alguém me der a mão no momento em que me fizeres cair?
Sentirias vontade de me erguer com os teus braços e não outro?

Talvez um dia seja tarde...
Talvez um dia eu já esteja cansada de mendigar-te o amor.

E nesse dia eu vou dizer que não te quero, que não te desejo, que não te sinto, que amo outros tantos e que até te odeio.

Pois essa é a forma menos humilhante de dizer: Gosto de ti.

Friday, January 19, 2007

Quero-te...

Quero-te...e muito.
Mas que importância é que isso tem?
Não me seguirás por ai.
Tão simples...

Thursday, January 18, 2007

Carinho

Dorme em mim amor, de forma apaixonadamente calma e distante.
Deixa que eu te beije o queixo, os lábios e o corpo com uma ternura tão transparente e real.
Tira-me a roupa demoradamente, enquanto me apertas, me reduzes a ti. Consome-me em desejos que sei serem de uma noite só.
Passa as tuas mãos pelo meu cabelo, encosta o teu rosto no meu. Sente o cheiro de um corpo que te quer, de uma alma que te beija, de um sentimento que vive preso nesta pele.

Acarinha-me contra o teu peito.
Deixa-me ser louca, intensa, apaixonada…
Amarra os teus pulsos aos meus, ama-me assim, sem essas mãos que nos afastam.
Dorme em mim e deixa o dia amanhecer em ti.

Mostro-te o meu eu-menina.
Desejo-te com o meu eu-mulher.

Faz amor comigo hoje, de forma demorada e triste. Como nunca antes.

E nos meus olhos apenas uma palavra: carinho.

Mesmo que amanha já não signifique nada...

Thursday, January 11, 2007

Podíamos falar de tanta coisa…

Podia falar-te de tantas coisas.
Podia sentar-me ao teu lado, e saborear-mos um café, enquanto falávamos de assuntos banais. Podia dizer-te o quanto gosto do cheiro a terra molhada, como gosto quando a chuva me beija o rosto, como gosto de caminhar descalça….Um sem fim de sensações que me tornam naquilo que realmente sou. Podíamos falar horas a fio, ou escassos minutos, marcando o ritmo de cada palavra dita, desconhecendo o tempo das que ficam por dizer. Podíamos falar do passado, partilhar-mos o presente e matar-mos o nosso futuro. Podíamos até falar de sentimentos, ignorando aquilo que realmente sentimos, não um pelo outro, mas que sentimos apenas. Podíamos falar de desejos, vontades, carinhos, sem nunca ter vontade de partilhar-mos afectos. Podíamos falar de tanta coisa, de mim para ti, de ti para mim, sem nunca entrar-mos nos caminhos sinuosos que compõem o nosso interior.
Podíamos falar de tanta coisa…
No entanto, podia sentar-me ao teu lado, saborear-mos um café, e falar-te de coisas realmente simples. Podia dizer-te o quanto gosto de estar contigo, conversar contigo, olhar para ti, ouvir a tua voz. Podia dizer-te o quanto adorava estar contigo todos os dias, a todas as horas, saboreando cada minuto como se fosse o último. Podia dizer-te o quanto gostava de estar presa a ti por vontade, sem que realmente me prendesses, porque assim deixaria de ser eu, deixarias de ser tu. Podia falar-te deste imenso querer-te sem saber explicar tantas questões que terias para me fazer. Podia então ouvir-te dizer o quanto gostas de mim como amiga e um sem fim de palavras que utilizarias para dizer uma coisa tão simples. Podia então dizer-te que me contento com a tua amizade, apesar de não ser isso que quero, quando às vezes o que quero também é confuso. Podia falar-te que sei que não são os mundos diferentes que nos separam, porque o mundo é apenas um. Somente não há um motivo. Quando se gosta, quer-se estar perto por vontade, sem pensar, sem precisar de um motivo, quando não se gosta, simplesmente não se gosta.
Tão simples…
Bem, podia sentar-me ao teu lado, saborear-mos um café, e ignorar tudo o que sinto.
Podíamos falar de tanta coisa…

Podia falar-te de tantas outras coisas, se me deixasses gostar de tantas outras mais.

Wednesday, January 10, 2007

Vazios de hoje...

Hoje apenas senti o vazio.
Mão sobre o rosto e olhar perdido.
Hoje senti abandonar-me por completo,
ficando a ver-me e a ver-te.
Hoje já quase não te ouvia,
não pronunciavas nada que eu já não soubesse.
Hoje já pouco eu falei,
afinal também não tinha nada para te dizer.
Hoje senti-me naquele silêncio,
onde as palavras estão à distância de um beijo.


Hoje precisava mesmo de um carinho.


Hoje sei que nunca me vais poder dar nada disso.

Hoje o sentimento é apenas de perda.

Hoje as palavras saem simples, o texto pouco harmonioso e tão imperfeito.

Monday, January 08, 2007

Banalidades...

Não quero a vulgaridade da lua.
Lua, tão fria e tão nua.

Não quero os passeios de mãos dadas.
Não, não quero todos esses nadas.

Não quero fazer amor à beira-mar.
Porque é apenas mais um lugar.

Não quero um abraço vazio e comum.
Como teias frágeis sem suporte nenhum.

Não quero palavras harmoniosas.
Como sons tilintantes em noites chuvosas.

Não quero um beijo fugaz e ardente.
Que de quente, tanto queima quanto mente.

Não quero paixões de uma noite só.
Corpos conspurcados em sentimentos de pó.

O que importa é a tua calma e integridade.
Estar contigo, aqui ou noutro lugar qualquer.

Não, não me dês coisas banais.


Não gostares de mim já se tornou uma verdadeira banalidade.

Desejo...

Desejo…
O teu amor por mim…
As tuas palavras doces, ditas ao meu ouvido.

Desejo…
Amar-te muito,
mesmo nas noites de tristeza e de dor.

Desejo…
Curar-te com o meu carinho.
E não quero que fiques sozinho sem mim.

Desejo…
Viver momentos que apenas existem,
nas nossas fantasias.

Desejo…
Fazer-te sentir esta minha paixão,
conquistando a plenitude.

Desejo…
Simplesmente ter-te, sem te ter e sem me teres.

Thursday, January 04, 2007

Não me ames por favor...

Chega de mentiras vãs, quando todas as manhãs, acordas ao meu lado.
É que eu já não posso mais, partilhar os rituais…
É tudo tão igual.

Não me ames por favor…
E eu sou mais feliz…
Que viver acorrentada, foi coisa que eu nunca quis.
Mais vale ser mal amada, é o que o coração me diz.

Já não sei há quanto tempo, os teus olhos não me vêem…
Apenas passam por mim.
É intenso este vazio, já não sei o que fazer.
Esta noite o amor partiu, sem sequer adeus dizer.

Não me ames por favor…
E eu sou mais feliz…
Que viver acorrentada, foi coisa que eu nunca quis.
Mais vale ser mal amada, é o que o coração me diz.

Música “Mal amada” de Mafalda Sachetti.

E tanto me diz a letra desta música.