Wednesday, August 23, 2006

A minha lua azul...


É em noites como esta em que ando às voltas na cama e nos pensamentos. Já devo ter passado em memória interior toda a minha vida, e sono nem ve-lo chegar.


Relógios de sol, relógios de areia ou ampulhetas, relógios de água ou clepsidras...
Neste instante, poderia ter estes todos a decompor o meu tempo em intervalos bem definidos. Para mim não faria qualquer diferença. O tempo passa na minha vida e este tempo que passa nem faz tiquetaque.

Há coisas que me magoam tanto...

há coisas que ainda me magoam mais.

E tu foi como me tivesses dito:

Vou estar contigo quando a lua for azul!!

Mas eu acredito que um dia a lua possa ser azul...

Queria tanto chegar até à minha lua azul...

Friday, August 18, 2006

Palavras sujas

Quiseras tu tornares-te realidade nas minhas palavras, seguindo sempre caminhos errados.
Quiseras tu representar um papel no qual nem soubeste deslindar a essência da personagem.
Quiseras tu trajar expressões que nem te cabiam na alma.
Quiseras tu ludibriar-me, jogar-me areia para os olhos, estar dentro de mim para dizeres o que sinto.
Quiseras tu desarmar-me, quando a minha firmeza nem cedeu um milímetro face a tentativas vãs, descabidas e carecidas de significado.
Quiseras tu um dia saber o que digo com o meu beijar ligeirinho, com o meu tocar como quem beija, com os meus beijos de chuva.
Quiseras tu saber fazer o meu jogo de sentidos, o percorrer com a ponta dos dedos, o deslizar da língua, os corpos enrolados, os corpos suados.
Quiseras tu saber sentir tudo isto que guardo para alguém.
Quiseras tu sim fazer igual e nessa tentativa acabaste por me dar,



Palavras sujas.

Thursday, August 17, 2006

Mundos diferentes

- São de mundos diferentes – diziam-me pela milésima vez.

- Mundos diferentes. – Tartamudeei entre dentes.


Fiquei a pensar no assunto até se tornar uma verdade absoluta.
Seriam esses “mundos diferentes” que me afastavam de ti? Seria essa a condição que tinha que transportar comigo e reconhecer?
Antigamente não sentia este peso de “mundos diferentes” como sinto hoje.
Um tão tudo e um tão nada que me afasta de ti.
Será que era eu que não te compreendia? Será que eras tu que não me compreendias? Mas tudo em ti eram portas fechadas, caminhos sinuosos, becos sem saída. Esse teu mundo era fechado e inverso ao meu, o teu coração intransponível e o teu corpo um caminho que desconhecia e desconheço pois nunca te quiseste moldar a mim. Poderia não dar a forma e a silhueta perfeita mas estava disposta a calcar-te e beijar-te ligeirinho, absorver esses teus caminhos e traçados e chegar a ti. Mas estavas sempre tão inacessível e recôndito.
Eu não queria entrar no teu mundo, nem queria que abandonasses o teu para conhecer o meu. Não queria destruir essa calma que te rodeia nem consumir-te a vida. Nunca te quis roubar o coração nem nada que fosse teu. Nem sequer te queria para mim, talvez porque te conheça assim livre. Só queria que me conhecesses, que trilhasses caminhos no meu corpo ate chegares aquilo que sou. Que me lesses com as pontas dos dedos. Não me conheces o corpo e muito menos a razão.



Não sei se ficaram coisas por dizer. Não sei se a culpa foi minha, mas sinto-lhe algum peso.


Neste momento não sei nada...



-Mundos diferentes. – Sim, talvez...

Monday, August 07, 2006

Encontra me no escuro…

Encontra-me no escuro, seguindo o som da minha voz que te chama baixinho. Percorre às cegas caminhos que eu tracei e beija o ar com a ponta dos dedos.
- Vem – ecoa num tom afável – e tu continuas um tanto ou quanto perdido, num misto de curiosidade e receio. Tacteias o ar à tua volta até que me encontras. Percorres-me o corpo, sentes me o cheiro e a respiração ofegante.

Eu tento soltar-me de ti...deixa-me fugir de todas as minhas verdades.
Somos tão impossíveis, e tu sabes que sim.
Dou-te com a mentira e fico com a verdade na garganta.
A pessoa que me roubou de mim própria...encontra-me no escuro, no escuro de ti.