Friday, November 24, 2006

"Quando os meus olhos te tocaram..."

Sabia que um dia te ia encontrar no meio da multidão...esta alma que tantas vezes pintei num corpo e num rosto incerto.
Sabia que iria reconhecer-te, pelo acto irreflexivo que me levou a mão ao peito, pela forma como me invadias a alma e o pensamento.
Não sei se notaste o meu olhar que quase te beijava e o meu sorriso envergonhado. Não sei se soubeste compreender todos os meus silêncios.
Dei por mim a interrogar-me sobre ti. Não que fosses excepcionalmente bonito, harmonioso. Talvez um pouco disso, mas tinhas aquele algo de extraordinário.
Olhei te nos olhos por breves instantes, fitei o teu rosto, tentando ver nas linhas que o compõem este amor desmedido.
Sentia o meu corpo que me prendia, a intensa necessidade de que me ouvisses mesmo no meu silencio. Queria tanto ter vencido todos os meus limites e ter tido a coragem de te abordar, mesmo que parecesse ousado. Mas o medo foi maior, era de uma imensidão que não conseguia agarrar e deixei-te ir embora, tão fugazmente como te vi chegar.
Não sei quem és, para onde foste e nem sei o teu nome. Não sei se um dia te vou encontrar outra vez perdido no meio da multidão, ou se vou guardar esta única imagem comigo para sempre, aprisionando-te no tempo. Não sei se reparaste em mim, não sei muita coisa...mas sei que vou revirar do avesso este pedaço te terra até te encontrar.


“Quando os meus olhos te tocaram
Eu senti que encontrara
A outra metade de mim
Tive medo de acordar
Como se vivesse um sonho
Que não pensei em realizar…”

Saturday, November 04, 2006

Um dia ganhei asas...

Um dia ganhei asas e voei…
Soltando a vida que em mim vivia.
Enterrei mil passados, acreditando que o amanha ainda era possível.

Um dia ganhei asas e voei…
Porque chegaste devagarinho e te fostes aninhando em mim…
E eu toquei-te de mansinho e deixei-te permanecer…

Um dia ganhei asas e voei…
Mas estas asas já me queimavam as costas…
A dor de quem sentia que te dissipavas ao longe…

Um dia ganhei asas e voei…
Com asas que me rasgavam a pele…
A dor de quem voa sozinho…

Hoje deste-me asas e voei…
Mas caí nos vazios que nos preenchem…
Perdi as minhas asas e com elas o meu sorriso.

Vives aqui escondido, abafado por entre as mãos com que aperto o coração.

Ainda te sinto aqui quando oiço o piano que toca sozinho.