Palco da vida
Um dia fui bailarina Étoile e dancei nas maiores salas do mundo. Expressei-me com Pirouette en Dehors, Demi Plie, Grand Plie, Arabesques. Tinha um stretching tão gracioso e a mesma garra de Nadia Nerina.
Fui bailarina sem nunca ter calçado umas sapatilhas de ponta.
Um dia fui estrela de cinema, qual Marilyn Monroe. A mesma sensualidade, beleza, glamour, mas ao mesmo tempo tão frágil, efémera e ingénua. Compreendi cedo que as mulheres demasiado bonitas nunca são felizes.
Fui actriz de cinema sem nunca ter desfrutado de um papel principal. Fui bonita sem nunca ter tido beleza.
Um dia fui pintora. Tinha a mesma astúcia de Da Vinci, tecnicamente brilhante como Rembrandt e vi o mundo pelos olhos de Monet.
Fui pintora sem nunca ter tido uma tela, uma paleta. Apenas esbocei rostos e espaços a carvão.
Conheci pessoas e “pessoas”.
Pessoas que se sentaram sempre na primeira fila só para me verem cair. As verdadeiras sentaram-se sempre na segunda fila...que engraçado esta vazia.
Amei e fui amada. Amada por ti. Por ti que sempre te sentaste na última fila num canto onde nunca te pude ver. Mas sei que me ridicularizaste. Ainda oiço as tuas gargalhadas de desdém.
As luzes alumiaram a sala. No fim vi que estava vazia. Mas espera. Tu ainda estás aí no mesmo canto. Não estás? Mas já não te consigo ouvir. Agora é tarde demais, já estou tão velha e cansada, cheia de palavras gastas pelo tempo.
Abandonei o palco com lágrimas no rosto. Afinal estas sempre fizeram parte de mim.
Sou menina perdida em contos de fada. No papel sou tudo. Na vida não sou nada.