- São de mundos diferentes – diziam-me pela milésima vez.
-
Mundos diferentes. – Tartamudeei entre dentes.
Fiquei a pensar no assunto até se tornar uma verdade absoluta.
Seriam esses “mundos diferentes” que me afastavam de ti? Seria essa a condição que tinha que transportar comigo e reconhecer?
Antigamente não sentia este peso de “mundos diferentes” como sinto hoje.
Um tão tudo e um tão nada que me afasta de ti.
Será que era eu que não te compreendia? Será que eras tu que não me compreendias? Mas tudo em ti eram portas fechadas, caminhos sinuosos, becos sem saída. Esse teu mundo era fechado e inverso ao meu, o teu coração intransponível e o teu corpo um caminho que desconhecia e desconheço pois nunca te quiseste moldar a mim. Poderia não dar a forma e a silhueta perfeita mas estava disposta a calcar-te e beijar-te ligeirinho, absorver esses teus caminhos e traçados e chegar a ti. Mas estavas sempre tão inacessível e recôndito.
Eu não queria entrar no teu mundo, nem queria que abandonasses o teu para conhecer o meu. Não queria destruir essa calma que te rodeia nem consumir-te a vida. Nunca te quis roubar o coração nem nada que fosse teu. Nem sequer te queria para mim, talvez porque te conheça assim livre. Só queria que me conhecesses, que trilhasses caminhos no meu corpo ate chegares aquilo que sou. Que me lesses com as pontas dos dedos. Não me conheces o corpo e muito menos a razão.
Não sei se ficaram coisas por dizer. Não sei se a culpa foi minha, mas sinto-lhe algum peso.
Neste momento não sei nada...
-Mundos diferentes. – Sim, talvez...